. O mais recente filme de McG vem apenas reforçar a impressão de que a completa falta de liga entre as cenas de seus filmes, o amontoamento obsessivo e vazio de chavões sugados de outros meios – os dois “As Panteras” – ou de uma certa tradição de filmes – este recente “Somos Marshall” –, afora o esvaziamento de qualquer humanidade que pudesse trespassá-los, não constituem partes de um projeto formal contemporâneo ou qualquer coisa similar. São, isto sim, alguns dos inúmeros reflexos da gritante inaptidão cinematográfica, sem falar na completa ausência de sensibilidade estética e narrativa, de um diretor por demais superestimado. Inclusive pelos que o detestam.
. Após finalmente assistir a “Bom dia tristeza” (Bonjour tristesse, 1958), é impossível escapar da evidência cristalina de que Godard, mais que apenas o casting de Jean Seberg para “Acossado”, deve a este filme grande parte dos efeitos conseguidos em sua exploração cromática e espacial do scope em “O Desprezo”. Surpreendente também o quanto a severidade do tom fúnebre em que o filme de Preminger pouco a pouco mergulha, é de pronto assumida no filme de Godard, que desde o início apenas trata de deixá-la transbordar. Os dois filmes juntos formam um dístico incontornável sobre a morte do cinema. Mesmo para os que não acreditam nisto.
. A beleza das imagens de “Os brutos também amam” (Shane, 1953) nasce em grande parte da exatidão de George Stevens na escolha das locações, que inclusive permeiam os gestos dos personagens de um tom épico que nasce do mais mundano dos esforços físicos, como arrancar um toco de árvore do terreno de uma pequena fazenda. A trama, pouco inventiva e com personagens extremamente simplistas, não dá conta do retrato crepuscular do oeste romântico, embora esta pareça ser sua principal proposta – daí o uso da criança e de seu rito de passagem como fio condutor –, mas há um certo interesse quando o realismo duro de Stevens parece acenar para a própria impossibilidade deste oeste ter existido. Na verdade, um dos maiores interesses do filme, extremamente mal montado como é o usual em sua obra, é justamente este embate constante entre o roteiro e as imagens. Não é um grande trabalho, mas é infinitamente mais instigante que os outros filmes do diretor que tive oportunidade de ver.
. “Hitchcock pode mentir. Como pode, também, apresentar o filme como costuma apresentar seu famoso programa de televisão. A TV é a TV – o cinema, outra coisa, é o cinema, e ele é um dos que sabem disso. E The wrong man é cinema: um dos filmes mais inteligentes do artista, não importando a posição anômala que ocupa, quanto às intenções e o objetivo, na sua obra. Anômalo como Lifeboat [Um barco e nove destino] e Under Capricorn [Sob o signo de Capricórnio]. A melhor entre as anomalias – e filme tão bom quanto os melhores entre os ensaios hitchcockianos mais legítimos.” Alguns críticos só batem com o decorrer dos anos e com o cair de certos preconceitos. Antonio Moniz Vianna é um deles, e é impressionante o quanto há momentos incisivos como este em suas críticas. Anacrônico, certamente. Graças a Deus.
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