15.5.07

Tradução - Lourcelles...

AMARGO PESADELO
(Deliverance)
1971 – EUA (106’) • Dir. JOHN BOORMAN • Rot. James Dickey, do seu romance • Fot. Vilmos Zsigmond (Technicolor) • Mús. Eric Weissberg e Steve Mandel • Elenco John Voight (Ed), Burt Reynolds (Lewis), Ned Beatty (Bobby), Ronny Cox (Drew), James Dickey (xerife), Billy McKinney (montanhês), Herbert Coward (homem desdentado).

Um dos maiores filmes americanos dos anos 70. Como “O Franco-Atirador” (Michael Cimino, 1978), ele oferece esta dualidade muito moderna de ser ao mesmo tempo uma narrativa de ação extremamente intensa e “física”; e uma parábola com encadeamentos filosóficos solidamente construídos, embora semeados com dúvida e ambigüidade. Utilizando de um passeio ecológico que se transforma em um sangrento pesadelo shakespeareano, Boorman apresenta a fascinação pela vida primitiva como uma forma de regressão mental particularmente perigosa e perversa, fadada a conduzir diretamente à tragédia. O homem moderno deve aceitar a civilização, mesmo se suas bases lhe pareçam frequentemente duvidosas; é verdade que a animalidade nele adormecida irá reativar de tempos em tempos uma inclinação à nostalgia, um devaneio de Éden. Mas esta inclinação não possui qualquer chance de ser satisfeita no mundo atual, a não ser como aqui, no horror puro e simples. Os nativos desta região sem poluição e sem progresso técnico vivem os últimos dias de um universo degenerado cuja desaparição seria um absurdo lamentar. Boorman utiliza um ritmo bastante lento, uma trama de artifícios voluntariamente limitados, e uma decupagem ampla pouco afeita aos recursos da montagem para dar o máximo de reverberação concreta e cósmica a cada um dos encadeamentos desta anti-epopéia. Como muitos filmes atuais, “Amargo Pesadelo” se banha numa luz fantástica e inquietante, tão vacilante quanto as certezas dos personagens. Filmagem realizada nas próprias locações onde se passa a ação e na ordem cronológica das seqüências.


. Jacques Lourcelles .

Texto contido nas páginas 378-379 do Dictionnaire du Cinema – Les Films (Aut.: Jacques Lourcelles). Tradução feita por José Roberto Rocha.

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