4.5.07

Buena Vista Social Club...


BUENA VISTA SOCIAL CLUB
(Buena Vista Social Club)
1999 – Alemanha/EUA/Reino Unido/França/Cuba (105’) • Dir. WIM WENDERS • Rot. Wim Wenders • Fot. Jörg Widmer, Robby Muller • Elenco Luis Barzaga, Joachim Cooder, Ry Cooder, Juan de Marcos González, Julio Alberto Fernández, Ibrahim Ferrer, Carlos González, Rubém González, Salvador Repilado Labrada, Pío Leyva, Manuel "Puntilita" Licea, Orlando "Cachaíto" López, Benito Suárez Magana, Manuel "Guajiro" Mirabal, Eliades Ochoa, Omara Portuondo, Julienne Oviedo Sánchez, Compay Segundo, Barbarito Torres, Alberto "Virgílio" Valdés, Amadito Valdés, Lázaro Villa.

Não se pode negar que seja recompensador acompanhar a jornada musical de um excelente grupo composto por artistas do quilate de Compay Segundo, Ibrahim Ferrer e Rubén González, entre outros. Mais ainda quando se observa que muitos deles se encontravam até então no ostracismo. Também é necessário reconhecer que há belos instantes em que o olhar de Wenders e os dramas ou causos particulares dos personagens compartilham de uma cumplicidade fundada muitas vezes num certo senso de cooperação entre os mesmos. No entanto, será que é mesmo possível acreditar nas mensagens arquitetadas pelo cineasta alemão? No decorrer de “Buena Vista Social Club” elas acabam se revelando nada mais que imposições despropositadas que parecem servir apenas para pintar um retrato de Ry Cooder como algum tipo de restaurador da esquecida música cubana. Uma lógica essencialmente assistencialista e, como tal, sempre esforçada em tentar esconder seus preconceitos conseguindo, entretanto, apenas escancará-los atrapalhadamente em uma série de imagens de um exotismo de cartão-postal.

Nosso Indiana Jones mergulha de cabeça, então, em um território de sonoridade e atmosfera ímpares, disposto a lançar os velhos baluartes da cena musical cubana para o Primeiro Mundo fonográfico, atrelando este esforço a uma idéia bem simplista de abertura política como grande solução, neste caso, para a música popular cubana que, coitada, tem que se contentar em ser nada mais nada menos que... cubana. O que impressiona é que Cooder, pretensamente um grande conhecedor da música local, é filmado como se estivesse ainda tateando diante da riqueza daquele universo. Tudo parece bem urdido com um didatismo bastante complacente, visando claramente a inserção dos espectadores “de fora” sem maiores constrangimentos. Daí a pontualidade das cenas em que a principal preocupação deixa de ser a investigação, ou a já em si problemática tentativa de arqueologia, e passa a ser a apresentação de Cooder como, ele mesmo, alguém para o qual aquele universo é também desconhecido. No fim das contas, as perguntas sobre o paradeiro de alguns músicos ou sobre certas composições deixam de ser meras perguntas e passam a ser exercícios de indulgência dos mais constrangedores.

De início, parece até haver um real esforço em tentar captar o estado das coisas em Cuba, buscando dotar as imagens de uma simbologia que reflita o sentimento de algo emperrado no tempo; até mesmo hermético em suas idiossincrasias. O problema é que tudo isto se dilui diante de constatações generalizantes – “os cubanos são felizes e musicais” – e clichês pavorosos relacionados ao esquecimento dos artistas pela sociedade; à inadequada valorização dos mesmos que, mesmo com a vida de privações que lhes é imposta, ainda conseguem fazer tanto; ou ainda às cansativas reafirmações de superação coletiva, ou de que a idade é um fator pouco determinante diante do talento. A poesia e beleza vislumbrada em alguma cena inicial escapa rapidamente e só será reencontrada nas músicas, ao menos quando elas conseguem transcender as imagens e se tornar algo em si. Uma sorte elas possuírem toda esta força apesar do filme que as carrega.

. José Roberto Rocha e Felipe Medeiros .

P.S.: Textos como este, em parceria com Felipe Medeiros (http://au-au.blogspot.com) devem se tornar mais constantes. Sempre postados tanto aqui quanto em seu blog, eles são resultados de um trabalho conjunto em cujo acabamento final as idéias serão adequadas de acordo com o estilo de cada um. Portanto algumas leves diferenças sempre serão vistas entre os posts daqui e os de lá.

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