Da revisão como redescoberta. Que “Rocky Balboa” era um filme sobre redenção, não restava dúvida; a surpresa está em finalmente enxergá-lo como um filme redentor. Tanto da série em si – as seqüências do modesto e encantador filme inaugural são deturpações progressivamente mais risíveis e oportunistas – quanto do próprio Sylvester Stallone, caricatura do action-hero americano, garoto-propaganda da era Reagan, grande astro decadente. Mesmo os patentes vícios estéticos que pontuam o filme – especialmente o uso inconseqüente de filtros – não são capazes de debelar a serenidade com que se acompanha seus personagens transitando em espaços tão assombrados quanto as próprias imagens. No entanto, entre a nostalgia dos diálogos e os prédios em ruínas de uma Filadélfia que não mais existe, não há espaço para lamentações. Se há um inegável acúmulo de cicatrizes - as feridas de guerra certamente podem ser notadas no rosto, na voz e no andar de Stallone – também incontornável é a crença do filme na capacidade de se conviver dignamente com elas. Só a partir desta autoconsciência se pode apostar nos pequenos momentos calorosos ainda possíveis entre ruas e rotinas levemente melancólicas. Stallone constrói estes instantes com um esmero que está menos em uma excelência visual que na confiança – leia-se, tempo - que deposita nos atores e em suas relações uns com os outros e com os espaços que ocupam.
Assim, é com simplicidade e desenvoltura que o filme resolve os possíveis conflitos entre os personagens – um deles se esvai diante de uma piscadela de olho – e se enche de imagens inauditas exatamente por serem profundamente ordinárias. Chega, inclusive, a suplantar a banalização do circo televisivo que se constrói ao redor da luta de Rocky contra o campeão mundial. À artificialidade gélida do espetáculo em si se opõe frontalmente a entrega incondicional de cada um dos que dele participam. Pouco importa o resultado; no final das contas, fez-se o que se tinha que fazer. Exatamente como no filme original, objeto estranho entre os sucessos da segunda metade da década de 1970, quando os americanos descobriam o filão dos blockbusters juvenis. “Rocky Balboa” é profundamente anacrônico, seja em sua moralidade ou em suas texturas. Tanto melhor.
Assim, é com simplicidade e desenvoltura que o filme resolve os possíveis conflitos entre os personagens – um deles se esvai diante de uma piscadela de olho – e se enche de imagens inauditas exatamente por serem profundamente ordinárias. Chega, inclusive, a suplantar a banalização do circo televisivo que se constrói ao redor da luta de Rocky contra o campeão mundial. À artificialidade gélida do espetáculo em si se opõe frontalmente a entrega incondicional de cada um dos que dele participam. Pouco importa o resultado; no final das contas, fez-se o que se tinha que fazer. Exatamente como no filme original, objeto estranho entre os sucessos da segunda metade da década de 1970, quando os americanos descobriam o filão dos blockbusters juvenis. “Rocky Balboa” é profundamente anacrônico, seja em sua moralidade ou em suas texturas. Tanto melhor.